Ao todo são 03 textos importantes cujos títulos são:
O Gênero Narrativo
As Eras Literárias
A Estrutura Narrativa
AULA DE LITERATURA
01/08/2012
O GÊNERO
NARRATIVO
O CONTO:
Foi trazido para o Brasil pelos portugueses. Entre nós, o
conto surge no início do Romantismo, mas só se consolida com Machado de Assis,
no Realismo.
Narrativa que possui
uma única unidade de ação, tempo e espaço bem determinado, personagens, enredo
e narrador e pode conter um toque de humor.Pauta-se também pelo diálogo.
Temos alguns tipos de contos, a saber: O conto moderno e o
conto Clássico e o Conto Alegórico.
O conto clássico é uma narrativa curta que contém uma só
ação, tratada de maneira sumária e direta. Deve conter uma estória concentrada,
breve e com desfecho surpreendente, o clímax. Explorando uma só célula
dramática, o conto clássico possui unidade de ação, ou seja, seu enredo possui
um só conflito. As personagens são delineadas com brevidade e concisão sendo
logo postas em contato dinâmico com o evento narrado. A Cartomante de Machado de Assis é exemplo de conto clássico.
No conto clássico a unidade de ação desenvolve-se em um
cenário mais ou menos limitado para que
a atenção do leitor não se desvie da
ação para o ambiente.
Na unidade de tempo, o narrador privilegia o tempo presente,
como se os acontecimentos ocorressem no momento em que os apresenta, também
utiliza-se da linearidade cronológica, todavia pode-se fazer breves recuos ao
passado para explicar pormenores do presente.Possui feições , muitas vezes
ligadas ao humor.
CONTO MODERNO:
Ou de atmosfera, é um enredo com início, meio e fim
(anedótico ou não) em que se explore propriedades singulares de uma personagem
posta em situação de grande significado existencial. Ex: A Missa do Galo de
Machado de Assis.
Também podemos entender conto moderno com estas
características:
É o reflexo da nova narrativa, substitui a estrutura
clássica pela construção de um texto curto com o objetivo de conduzir o leitor
para além do dito, para a descoberta do sentido do não dito. A ação se torna
mais reduzida que no conto clássico, surgem monólogos, a exploração de um tempo
interior, psicológico, a linguagem, muitas vezes, choca pela rudeza, desaparece
a construção dramática tradicional que exigia um desenvolvimento um clímax e um
desenlace, em contrapartida cobra do leitor que os aspectos constitutivos da
narrativa possam ser encontradas e apreciadas. Exige uma leitura que descubra
não só o que é contado, mas, a forma como o fato é contado e a forma como o
texto se realiza.
CONTO ALEGÓRICO:
Aborda noções abstratas a partir de situações concretas.
Empenha-se em explorar por meio de narrativa figurada uma convicção filosófica,
um importante conceito cultural ou um preceito moral.Geralmente apresenta situações absurdas como se fossem ocorrências
normais. Ex: O Espelho e A
Terceira Margem do Rio de João Guimarães Rosa.
Em O Espelho
investiga-se o problema do conhecimento humano por meio de relato científico(
de um cientista louco) que busca sua essência
mediante investigação minuciosa
das camadas de significado sobrepostas à
imagem do rosto refletida no espelho. O conto assume a forma de complicado jogo
de raciocínio ou lógica.
Em A Terceira Margem
do Rio a investigação metafísica da
existência se concretiza com a viagem metafórica de um homem rumo à terceira
margem das coisas, para além do mundo dualista do mundo ocidental, limitando os
extremos inconciliáveis de vida e morte, terra e água, céu e inferno, corpo e
espírito.
Assim, a narrativa alegórica aquela cujo tema extrapola
limites do assunto podendo conter mais de uma interpretação.
Depois do Modernismo o conto assumiu extrema flexibilidade
como as crônicas de Rubem Braga (1913- 1990) ou os mini contos de Dalton
Trevisan (1920-)
O diálogo também faz parte e muito importante na vida do
conto, pode inclusive apresentar boa parte da narrativa, essa é uma aproximação
do conto com o teatro.
CONTISTAS FAMOSOS EM
LÍNGUA PORTUGUESA
Machado de Assis, Aluízio de Azevedo, João Guimarães Rosa,
Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Otto Lara Resende, Lima
Barreto, Ruth Rocha, Ligya Fagundes Telles, José J. Veiga, Ruben Fonseca.
GÊNERO NARRATIVO: NOVELA
Na tradição
luso-brasileira temos Camilo Castelo Branco com a novela Amor de Perdição e O
Alienista de Machado de Assis. Na moderna literatura Brasileira temos Corpo de Baile de João Guimarães Rosa
com sete novelas, das quais uma delas é a que citamos a pouco Recado do Morro.
Na Idade Média o gênero Novelas se manifestou nas novelas de cavalaria, são
estórias de média duração, isso se deve à estrutura episódica. Ex de novela de
cavalaria O Santo Graal, (séc. XIII) Amades de Gaula (séc. XIV).
GÊNERO NARRATIVO ROMANCE
Longa narrativa em prosa, que coloca em
cena personagens que encenam interesses ou ideias do mundo burguês.
A vida da personagem é quase sempre abordada na sua
totalidade. Os assuntos mais frequentes do romance são: o amor e o choque com a
sociedade.
Composto de vários personagens os quais podem se envolver em
tramas separadas que se unem no final,
ou seja, o romance possui mais de um núcleo de ação,apresentando-se como
estória multifacetada.Suas unidades dramáticas ligam-se por causa e feito ou
seja, os acontecimentos finais no romance são apresentados como consequência de
alteração do equilíbrio da situação inicial, alterados por desejos, intenções e
propósitos dos personagens envolvidos. Os grandes romances possuem conexão com
a vida política, ideológica, filosófica e social de um dado momento histórico.
Ex: O Guarani de José de Alencar e Grande Sertão - Veredas de João
Guimarães Rosa.
A partir do Realismo criou-se um romance voltado para a
representação da realidade imediata, imitando a dinâmica de interesses, das
crenças dos indivíduos, seus aspectos psicológicos. Um dos grandes romances do
realismo europeu é Crime e Castigo de Fiodór Dostoievisk (1821- 1881).
O romance atual assume feições próprias a partir do século
XVIII com autores franceses, ingleses e alemães a exemplo de Goeth com O
Sofrimento do Jovem Werther (1774). No Brasil, o romance se define no século
XIX com Teixeira e Souza, Joaquim Manoel de Macedo e José de Alencar.
TIPOS DE ROMANCE:
Esse tipo de romance baseia-se na aventura, a trama é
complexa, com inúmeras derivações, surpresas e sucessões vertiginosas, de
ocorrências mirabolantes e não da análise psicológica ou da crítica social.
Nesse tipo de romance predomina personagens com mais presença física do que
espiritual. Ex: O Guarani de José de
Alencar
Este tipo de romance parte da estrutura do romance de ação,
já que costuma tomar um período da história nacional como pretexto para a
exibição de guerras e aventuras Ex: Euríco
o Presbítero, de Alexandre Herculano.
O Guarani é
romance indianista, de ação e também histórico focalizando o século XVIII no
Brasil com os primeiros desbravamentos de nossas florestas.
ROMANCE DRAMÁTICO:
É aquele voltado para a análise psicológica dos indivíduos
Ex: Dom Casmurro de Machado de Assis
e São Bernardo e Angústia de Graciliano Ramos.
Nesses romances trabalha-se a evolução de um problema individual que pode ser por conta do
temperamento das personagens ou por condições sócio culturais. Uma das formas
consagradas do romance dramático é a confissão ou autobiografia, chamada também
de romance psicológico.
O romance para ser dramático precisa:
A ação decorrer do caráter dos personagens,
as propriedades naturais da personagem determinam a ação, assim como a ação
pode modificar a maneira de ser da personagem.
Os protagonistas devem apresentar uma crise
de moral associada ao desenvolvimento do caráter.
O enredo não pode ser espetacular como no
romance de ação, mas ajustados a situações possíveis da vida prática. No
romance dramático tudo é personagem, não há moldura externa. Ex: A Hora da Estrela e Perto do Coração Selvagem de Clarice Lispector.
ROMANCE PICARESCO:
Caracteriza-se pela ação episódica parcelada em diversas
células dramáticas que justapõem em contínua sucessividade de pequenas
estórias. Cada uma das estórias envolve diferentes personagens ma o herói está
sempre no centro delas, é ele que determina a unidade do romance.
O estilo do romance picaresco é de descontração e humor.
Picaresco vem da palavra pícaro (personagem marginal) amigo de aventuras, vive
ao acaso.Suas aventuras envolvem camadas sociais populares. Ex: Memórias de um Sargento de Milícias de
Manoel Antônio de Almeida com capítulos episódicos unitários, cujo conjunto
reconstitui a vida de Leonardo Pataca e seu filho Leonardo em meio às camadas
mais baixas do Rio de Janeiro no tempo de D João VI. Apresentam-se os apuros
apertos e diabruras dos dois Leonardo.
Neste mesmo segmento temos no século XX Macunaíma de Mário de Andrade e
O Grande Mentecápto, de
Fernando Sabino(1923-).Na literatura europeia temos Lazarillo de Tormes (1553) de Diego Hurtado de Mendonza
(1503-1575).Dom Quixote também
possui algumas propriedades picarescas.
ROMANCE DE FORMAÇÃO
O assunto típico do romance de formação é o amadurecimento
do protagonista cuja estória demonstra as dificuldades morais e espirituais
inerentes à formação do seu caráter. Ex: O
Ateneu de Raul Pompéia e Campo Geral
de João Guimarães Rosa
ROMANCE POÉTICO
Como construção artística, o romance poético é aquele cujo
texto não apresenta versos, mas apresentam
procedimentos estilísticos de poemas
dando muita importância para a conotação, insinuações de sentido
simbólico, sinestesia, etc. Ex: Iracema de José de Alencar, e Grande Sertão
Veredas de João Guimarães Rosa, considerado o maior texto em prosa poética.
ROMANCE AUTO
REFLEXIVO
Caracteriza-se por incorporar em seu universo ficcional o
gesto de redigir o próprio texto que apresenta.A referência ao ato de escrever
chama-se metalinguagem, porque em vez de se referir à vida, o autor refere-se à
própria linguagem.A metalinguagem tornou-se
um dos temas preferidos do romance.Há casos que esse aspecto ganha muita
importância ocupando capítulos inteiros. Ex: Dom Casmurro, São Bernardo e o
mais radical romance metalinguístico A Hora da Estrela.
SEGUNDO TEXTO
AULA DE LITERATURA
01/08/2012
Podemos agrupar as escolas literárias em Eras, essas Eras
reliterárias relacionam-se com as idades históricas, temos então: Era Medieval,
Era Clássica e Era Moderna, Veja:
Era Medieval
compreende as seguintes escolas: Trovadorismo e Humanismo.
Era Clássica:
Classicismo, Barroco, e Neo- Classicismo ou Arcadismo
Era Moderna:
Romantismo, Realismo/ Naturalismo (Parnasianismo), Simbolismo e Modernismo.
A Literatura Brasileira se constitui na Era Clássica (
Colonial) iniciando-se no Barroco e no Neoclassicismo.
Escolas Literárias:
Cada poeta ou prosador digno de estudo tem sua marca própria que o distingue
dos demais, é o sue estilo pessoal, mas todo artista vive numa determinada
época e sua obra reflete o espírito de seu tempo, da sua sociedade. Isso faz
com que artistas de uma mesma sociedade e época representem em seus trabalhos
características comuns, essas semelhanças constituem o estilo de época ou
escolas literárias.
Cada Escola Literária constitui uma estética, uma maneira de
entender e fazer arte, assim escola literária, estilo de época ou estética são
sinônimos Ex: Escola Romântica ou estética romântica, ou ainda estilo
romântico.
TRADIÇÕES:
As escolas literárias sucedem-se umas às outras numa relação
de ruptura ou continuidade. Os elementos de ruptura estabelecem a diferença
entre elas e os de continuidade a tradição. Assim, escolas de épocas diferentes
podem apresentar semelhanças por influência da tradição.
Há duas grandes tradições ao longo da história: Tradição Clássica e Tradição Romântica.
A
Tradição Clássica é chamada de apolínea porque as escolas afiliadas a ela
identificam-se com as características do Deus Apolo (Grego)
-Equilíbrio e harmonia
-Regularidade e senso de proporção
-Simplicidade, clareza e concisão
-Objetividade e racionalismo
-Ideal ético e estético (Bem e Belo)
Pertencem a essa corrente as seguintes
escolas literárias: (Humanismo (algumas
características),
Classicismo
Neoclassicismo
Naturalismo/ Realismo
Modernismo.
2) A
Tradição Romântica é chamada de barroca ou dionisíaca, porque as escolas
ligadas a elas identificam-se com o Deus Dionísio; suas características são:
- Desequilíbrio e sinuosidade
- Desequilíbrio e sinuosidade
-
Desregramento e contorcionismo de formas
-
Complexidade, obscuridade e hermetismo
-
Subjetividade e sentimentalismo
-
Irracionalidade e misticismo
As escolas que pertencem a essa
família artística são:
Trovadorismo
Humanismo ( algumas características)
Barroco
Romantismo
Simbolismo
Modernismo (algumas tendências)
Fique claro que:
A inserção de escolas literárias em uma das
tradições (clássica ou romântica) e a atribuição de características de uma ou
de outra é muito esquemático, serve para fins didáticos, para facilitar o
estudo dos alunos. Sabendo características da tradição clássica ou da
romântica, o estudante passa a saber, em linhas gerais quais são as
características de todas as escolas pertencentes àquela tradição.
É bom que se esclareça que nenhuma escola
se identifica integralmente com a tradição, só em linhas gerais é possível
admitir essa identidade.
Manifestações de uma escola apolínea podem
conter elementos da dionisíaca e vice-versa.
Geralmente uma escola apolínea é sucedida
por uma dionisíaca, numa alternância antagônica, mas nem isso é claro nem sempre acontece.Ex: As manifestações
artísticas do Humanismo são classificadas de apolíneas em virtude do
racionalismo que ela contem, apesar de muitas de suas obras apresentarem a vocação
dionisíaca. Ex: A Divina Comédia de Dante Alighieri (1265-1321), Decameron de
Giovanni Boccagio (1313-1375), As Farsas de Gil Vicente. Assim, o Classicismo
que surge do Humanismo não se opõe a ele, antes lhe dá continuidade,
desenvolvendo valores anti medievais.
A tradição apolínea é também chamada de
clássica porque as escolas dessa tendência seguem um padrão estilístico básico,
estabelecido pela arte Grega dos séc.IV e V a. C. chamada clássica porque se
tornou a base da educação dos jovens da antiguidade.
A tradição dionisíaca é chamada de romântica
por conta do enorme impacto do romantismo na cultura que chegou a forjar o
perfil da civilização ocidental contemporânea. Foi ele que insurgiu mais
radicalmente contra a tradição clássica tornado claro o caráter divergente de
movimentos apolíneos. Ex: Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda
(1902-1982) é um ensaio sobre nossa formação histórica, Os Sertões de Euclides
da Cunha, é um ensaio artístico no qual se fundem elementos da ling. ficcional
com a ling. científica.
TERCEIRO TEXTO AULA DE LITERATURA 3º
BIMESTRE 01/08/2012
A ESTRUTURA NARRATIVA
A estrutura de uma obra de arte literária entende-se a
correlação interna entre seus elementos. Em termos gerais, integram a estrutura
de uma narrativa: o enredo, personagens, tempo e espaço, narrador.
Perceber o contraste de cenas e situações, o enredo voltado
para o suspense ou o clímax, o simbolismo de certas passagens, as
características de cada personagem e suas ações, tudo isso é importante
reconhecer porque integra o conjunto dos elementos estruturais da obra que se
lê.Assim, apreender a estrutura da narrativa é estabelecer uma relação entre
seus elementos, é detectar, entender e interpretar o texto.
O ENREDO:
A estória deve ter começo, meio e fim bem estruturados. O
enredo é o modo de dar forma aos acontecimentos, ele busca o sentido das coisas
no mundo. A noção de enredo pressupõe a existência de personagens, elas vivem
acontecimentos que formam a trama do romance.
Da mesma forma a ação das personagens exige um determinado
tempo e espaço em que possa se desenvolver, assim, a ideia de enredo compõem-se
de ação, personagens, tempo e espaço.
O enredo pressupõe uma situação inicial seguida de um
incidente que altera a estabilidade e desencadeia uma mudança na vida das
personagens, as quais passam a agir para restaurar a ordem inicial. O enredo
também pode ser chamado de intriga ou trama.
NARRADOR:
O enredo é o que acontece com os personagens de uma
narrativa apresentada por um narrador.
O escritor é aquele que escreve, o narrador é aquele que
conta, o primeiro nem sempre é acessível, já o segundo está à disposição.
Compreender o perfil do narrador e seu modo de expressão é
muito importante para a compreensão da estória, por isso o leitor deve estar
atento ao discurso do narrador.
Chamamos ponto de vista ou foco narrativo a perspectiva a
qual o narrador conta a estória. Trata-se de um lugar hipotético, de onde ele
vê as coisas que fala. Este lugar pode dar ao narrador uma visão externa ou interna,
total ou parcial das ações e das personagens da estória, assim temos:
a)
Narrador em 1ª pessoa (narrador protagonista)
quando a estória é contada por alguém que participou ou participa da trama.
Este narrador costuma apresentar uma visão
parcial dos acontecimentos, já que não tem acesso ao que se passava em outro
lugar quando vivia determinado incidente. Ex: Dom Casmurro, São Bernardo e O
Ateneu, esse narrador pode falar de si e privilegiar a vida de outrem EX; A
Cidade e as Serras de Eça de Queiroz.
b)
Narrador
em 3ª pessoa ou onisciente: quando a estória é contada por alguém que não
participou mas que conhece a estória.
Sem falar de si o narrador em 3ª pessoa
trata os personagens pelo nome, pode apresentar domínio total ou parcial da estória. Quando sabe tudo sobre
o que narra é chamado de onisciente. Conhecedor de tudo o que acontece em todos os lugares da
estória, apresenta os fatos como se os soubesse desde a sua origem reveleando
detalhes e explicações.
NARRADOR NÃO
CONFIÁVEL:
Aquele que narra a estória
por uma perspectiva favorável a seus interesses. A esse tipo de narrador
chamamos de narrador não confiável. Ex: Dom Casmurro.
NARRADOR E
FOCALIZADOR:
Não necessariamente quem narra é quem vê. Ex: Campo Geral de
Guimarães Rosa, o narrador é um adulto onisciente que apresenta quase toda a
estória pela perspectiva de uma criança míope.
Rosa inventa um narrador que focaliza a estória conforme o
ponto de vista de Miguilim, que enxerga mal. Esse tipo de escolha provoca
enorme diferença na narrativa.
Este tipo de foco narrativo chamamos também de
multisseletivo Ex. também em Vidas Secas, quando o narrador alterna sua visão
com a visão das personagens Fabiano, Sinhá Vitória, os meninos e a cachorra
Baleia.
PERSONAGENS:
PLANAS:
Há personagens que
apresentam traços fixos e não sofrem alterações essenciais no decorrer da
trama. Geralmente não são focalizadas do ponto de vista de sua intimidade
psicológica, mas em suas ações exteriores, por isso são chamadas de personagens
planas.
Normalmente as personagens planas ou tipos são
caracterizados de modo a não pairar dúvida sobre seu caráter e intenções. O
narrador possui completo domínio desta personagem, ou seja, ela não representa
nenhum mistério.
ESFÉRICAS:
Personagens que se constroem a partir de dentro, revelando
novas e surpreendentes faces no processo de aperfeiçoamento ou degradação do
caráter.
Por meio delas o escritor constrói um indivíduo e não um
estereótipos (resultado de traços
coletivos).Normalmente retrata-se o
aspecto psicológico ou moral destas personagens, em crise existencial .Assim,
as ações exteriores dão lugar à vida interior Ex: Capitu de Dom Casmurro ou Ema Bovary em Madame Bovary de Gustave Flaubert
(1857).
ESPAÇO E TEMPO
Cenário ou espaço
é o ambiente em que se desenvolve a ação Ex: o espaço de Fogo Morto de José Lins do Rego
são os engenhos da Paraíba no
final do século XIX início do XX,em Quincas
Borba de Machado de Assis é o Rio de Janeiro no Segundo Reinado.
Assim, a ideia de cenário está atrelado à ideia de tempo,
com a época em que se desenvolve a ação. Há casos que o cenário integra o
sentido principal da narrativa Ex: O
Cortiço de Aluizio de Azevedo, nesta obra o cenário se confunde com as
personagens.
Nos romances regionalistas, a paisagem exerce verdadeira
força sobre o homem (Vidas Secas, Fogo Morto), a seca, o latifundiário, integra
a concepção social, psicológica e política do romancista. Outro exemplo são os
romances indianistas, em que a natureza integra o universo mental das
personagens e faz parte do sentido geral da estória.
O tempo é
importante para a percepção do modo como o escritor organiza a narrativa. Ele
pode começar a contar sua estória Dio
início, as vezes pelo meio e outras vezes pode começar pelo final, a exemplo de
Memórias Póstumas de Brás Cubas. |Neste romance há uma inversão cronológica.
Há romances que optam pela linearidade cronológica, ou seja,
os acontecimentos ocorrem em ordem progressiva. Ex: Crime e Castigo de
Dostoievski.
Para apresentar informações sobre o passado das personagens
lança-se mão do flashback (interrupção estratégica do fluxo cronológico da
ação) com o propósito de apresentar as motivações psicológicas, sociais,
familiares, da situação presente da narrativa principal.
Temos então, a dimensão cronológica e uma outra chamada
psicológica:
O tempo psicológico, mostra a duração interior que é
diferente (mais lento) do que o movimento do relógio. Exemplo Ulisses de James Joyce, embora seu
tempo cronológico se passe em 24 h, o
livro possui mais de oitocentas páginas porque nele temos a captação da duração
interior da personagem.
O romance de ação dá ênfase ao tempo cronológico, já o
dramático ao psicológico. Obra brasileira que prima pelo tempo psicológico
destaca-se Angústia de Graciliano
Ramos.
MODOS DE REPRESENTAÇÃO
DA INTIMIDADE:
Muitos escritores do
realismo fizeram uso da técnica do discurso indireto livre que possibilita
captar a intimidade da personagem.O escritor fundindo personagem com narrador
apropria-se do universo mental da personagem para expressar livremente suas
ideias e pensamentos.
É uma maneira de dar dinamismo ao mundo interior da
personagem Ex: Primo Basílio de Eça
de Queiroz e Vidas Secas de
Graciliano Ramos.
FLUXO DE CONSCIÊNCIA:
No século XX, com a técnica do discurso indireto livre,
proporcionou-se a criação do fluxo de consciência ou monólogo interior. Através
do fluxo de consciência, o romancista
procura imitar a sucessão de imagens, sensações, lembranças e
pensamentos que não se traduzem pela
lógica aparente das palavras,mas que podem ser sugeridos. Por essa técnica, o
narrador dá espaço à intimidade da personagem sem avisar que o faz>Todavia
ela não fala, apenas monologa mentalmente, dando vazão às experiências
interiores, de maneira livre e desconexa. Os grandes adeptos desta técnica são:
James Joyce, Virginia Woolf e Clarice Lispector.
ASSUNTO E TEMA:
Ao ler um livro, o leitor deve ter o domínio da trama, o
assunto, o sentido geral do texto.
O assunto é a matéria de uma obra de ficção e o tema é a
interpretação do assunto. O assunto é mais objetivo que o tema. O assunto
decorre da escolha do escritor, o tema da interpretação do leitor. Ex: O assunto em São Bernardo é a
ascensão e a decadência de um fazendeiro do sertão nordestino, o tema poderia
ser a utilização do homem como objeto do
homem ou a ideia de que o progresso sem ética não funciona.